Bem, com certeza, nessa altura do
campeonato, você já deve ter ouvido falar da youtuber Kéfera Buchmann, que
provavelmente, é uma das únicas representantes do seu próprio nome. Eu devo
confessar que nunca assisti um vídeo dessa criatura até o final, não li o livro
que ela publicou e pouco sei da vida dela, mas como convivo o tempo todo com
adolescentes e pré-adolescentes – especialmente crianças mesmo – não tem como
desconhecer esse fenômeno do YouTube. Kéfera virou uma webcelebridade.
Kéfera começou a fazer sucesso em
2010, quando lançou o primeiro vídeo em seu canal do YouTube, o 5incominutos,
e hoje conta com 9.168.634 de inscritos {na data em que escrevi essa postagem,
ou seja, 14 de agosto de 2016, sendo que atualmente, deve ter bem mais^^}, e
fora a quantidade de seguidores em outras redes sociais (Facebook, Instagram,
etc.). Para ter noção da influência da Kéfera, milhares de jovens lotaram a
Bienal do Livro do Rio de Janeiro para ver a paranaense, de apenas 22 anos, que
autografou seu livro “Muito mais que 5inco
minutos”, maior best-seller da 17ª edição da feira. Ela também vai estrelar
o filme “É Fada”, baseado no Livro
infantil “Uma fada veio me visitar”.
O que nos interessa, aqui no Blog
Por Trás do Nome, é o nome da dita cuja: Kéfera.
Bem, o nome Kéfera me soa
completamente inventado por pessoas que queriam ser originais e criaram um nome
do zero. A ausência completa de pessoas chamadas Kéfera no mundo inteiro dão
uma boa pista disso. Mas não é isso que pensa o site brasileiro Dicionário de
Nomes Próprios: lá consta que Kéfera tem origem egípcia e significa “primeiro
raio de sol da manhã”.
Nas palavras dos próprios autores
do Dicionário de Nomes Próprios:
Esse é o nome de uma divindade de bastante
relevo na mitologia egípcia, que é considerada a encarnação do Sol. Trata-se do
Deus Kepri, o Deus do Sol (também conhecido como Kheper, Khepera, Khepra,
Khepre ou Khepere). Ele simboliza a ressurreição e é representado pela imagem
de um escaravelho em virtude do comportamento desse inseto que é usado como um
talismã no Egito. (...) Estamos, sem dúvida, diante de um bonito nome
predominantemente feminino no Brasil que reflete a simbologia do sol que se
refere, especialmente, à força, à juventude e à perfeição. (...) No nosso país,
tem como variantes gráficas Khéfera ou Képhera.
Como sempre, o Dicionário de
Nomes Próprios está impossibilitado de comprovar as suas informações. Nos sites
ingleses e franceses sobre nomes mais confiáveis que encontramos, não há nenhum
indicio de que Kéfera seja um nome de origem egípcia muito menos que signifique
“primeiro raio de sol da manhã”. Um significado poético, sem dúvida, mas
posteriormente atribuído e fictício.
Quanto à isso, embora eu não entenda
nada de mitologia egípcia, parece que existiu um deus egípcio chamado Khepri. Segundo o site “Egito
Antigo”:
Khepri (também chamado Kheper, Khepera, Khepra, Khepre, Khepere)
é o nome de uma divindade principal da mitologia egípcia. Khepri é associado
com a imagem do escaravelho, cujo comportamento de ficar carregando bolas de
estrume é comparado as forças que fazem mover o Sol.
Khepri veio a ser considerado gradualmente como uma encarnação do próprio Sol, e por isso tornou-se um deus do Sol. Para explicar para onde o Sol vai ao anoitecer, os egípcios antigos diziam que ele foi para o submundo (ou Mundo dos Mortos) e o Deus Khepri tinha que manter-se incessantemente empurrando o Sol para que ele nascesse novamente.
Khepri veio a ser considerado gradualmente como uma encarnação do próprio Sol, e por isso tornou-se um deus do Sol. Para explicar para onde o Sol vai ao anoitecer, os egípcios antigos diziam que ele foi para o submundo (ou Mundo dos Mortos) e o Deus Khepri tinha que manter-se incessantemente empurrando o Sol para que ele nascesse novamente.
O deus Khepera criou-se a partir da matéria
primordial ao dizer seu próprio nome, em seguida ele procriou os deuses Shu e
Tefnut, formando a primeira trindade egípcia. De Shu e Tefnut nasceram Geb e Nut. Nut, esposa de Geb, foi a mãe
de Osíris, Hórus,
Seth, Ísis e Néftis, em um único
parto.
Como o escaravelho deixa os ovos nos corpos
mortos de vários animais, incluindo outros escaravelhos, e no esterco, daí
emergindo para o nascimento, os antigos egípcios acreditavam que os
escaravelhos estavam carregados da substância da morte. Por isso, associavam
ainda Khepri ao renascimento, renovação e ressurreição. De fato, o símbolo do
escaravelho Khepri em egípcio antigo significa tornar-se. Como resultado disso,
quando o culto do deus-Sol rival Rá aumentou, Khepri foi identificado como uma
variante de Rá (o aspecto do Sol na manhã ou madrugada).
Consequentemente, quando Rá e Amon se tornou a identidade de um mesmo deus
(Amon-Rá), determinou-se que Khepri era a forma de Rá quando jovem, em conflito
com Nefertum, que era o Atum jovem. Isto tudo gerou uma cosmogonia onde Rá,
como Khepri, foi resultado da atividade da Ogdóade e emergiu de uma flor de
lótus azul apenas para ser imediatamente transformado em Nefertum que, depois
de crescer, gerou a Enéade.
Khepri foi principalmente esculpido e
pintado como um escaravelho, embora em alguns papiros funerários tenha sido
representado como um homem com a cabeça de escaravelho. Ele também foi
representado como um escaravelho numa barca solar segura por Num. Quando
representado como um escaravelho, ele era normalmente posto a empurrar o sol
através do céu durante o dia, bem como a empurrá-lo em segurança durante a
noite, na passagem do Sol pelo submundo.
Como o aspecto de Rá, é particularmente
prevalecente na literatura funerária do período do Império Novo, quando muitos
túmulos do Vale dos Reis foram decorados com Rá como o disco solar, Khepri como
o Sol na manhã ou madrugada e Atum como o Sol poente.
Em Trono de Fogo, o segundo livro da série
As Crônicas dos Kane, de Rick Riordan, Khepri, na forma de um escaravelho, é
uma das três formas em que Rá se dividiu, quando se retirou para dormir.
Sendo assim, Khepri
gradualmente veio a ser considerado como uma encarnação do próprio Sol, e por
isso tornou-se uma das formas do Deus do Sol. Segundo a Religião Egípcia, ele
era responsável por "rolar" o sol para fora do Duat no final da sua
jornada, também representava o renascimento diário de Rá. Assim, o significado atribuído
de Kéfera de “primeiro raio de sol” poderia ser interpretativo, já que o dito
deus rolaria o sol e seria responsável pelo seu surgimento todas as manhãs.
O site InfoEscola informa que:
Khepri
era um dos vários deuses egípcios
associados a animais. Seu nome significa escaravelho,
e seu culto é citado nos textos encontrados nas pirâmides. O escaravelho tem
por hábito botar seus ovos em esterco animal, assim como em corpos de outros
escaravelhos mortos. Essa prática foi observada pelos egípcios e, daí, surgiu a
noção de ressurreição e renascimento, associadas ao escaravelho.
Outra prática comum dos escaravelhos e que
também foi observada pelos egípcios, é a de rolar bolas de esterco pela terra.
Isso fez com que fosse associado ao deus Rá, que rola o Sol através do céu.
Essa crença fazia com que os egípcios acreditassem que Khepri renovava o sol
todas as noites para, no dia seguinte, apresentá-lo ao mundo, renovado.
Essa idéia de renovação associado ao
escaravelho, foi levada tão a sério pelos egípcios que, aquele que trouxesse
consigo uma imagem de um escaravelho, tinha garantido a persistência no ser e,
se levasse essa imagem para a sepultura, teria certificado o direito ao
renascimento para a vida.
Tido como amuleto preferido, os escaravelhos
destinados aos mortos eram confeccionados com muito realismo, em pedra dura e
colocados no lugar do coração, no peito das múmias, às vezes, incrustados numa
moldura retangular. Estes amuletos já foram encontrados até no peito de certos
animais tidos como sagrados pelo povo egípcio.
De qualquer maneira, ainda que se possa dizer que Kéfera seja uma forma feminina do nome desse deus egípcio, o significado seria "escaravelho", um besouro que fica rolando estrume, e não acho que isso é algo interessante para adotar como significado.
E também não pode comprovar sobre
a questão do uso do nome no Brasil: não encontramos nenhuma Kéfera nos dados do
IBGE (Nomes no Brasil) que levou em conta pessoas vivas nascidas desde antes de
1930 até 2010, durante a pesquisa do Censo. Claro que o IBGE não levou em conta
nomes com menos de 20 registros, já que a tal Kéfera famosa existe e não é nome
artístico. Mas então, possivelmente, se ela não é a única, há menos de 20
pessoas até o ano de 2010.
Depois que ela ficou famosa, aí é
outra história. Kéfera é o nome bem típico que uma fã adolescente que engravida
e dá a luz à uma menina usaria para homenagear a “ídolo”, e que vai se
arrepender quando for adulta. É possível comprovar isso, afinal, na lista da
Arpen/SP de 2015 apareceram duas bebês meninas registradas como Kéfera. Isso só
abrange o estado de São Paulo, então podemos imaginar que algumas a mais
nasceram no Brasil, e principalmente no Paraná onde é o estado de origem da
vlogger.
Quando Kéfera e sua mãe foram ao
programa do Jô, elas falaram sobre o significado egípcio, mas admitiram que não
acreditam que seja o significado real, praticamente admitindo que é inventado.
De qualquer forma, Kéfera é um nome que realmente combinou com sua portadora,
não dá para imagina-la com outro nome. O nome até intriga, pela sonoridade,
contudo, só o fato de ser inventado já serve para eu o desclassificar.
Uma hipótese que podemos levantar
é que seja uma alteração/elaboração do nome hebraico masculino Kfir ou Kefir, que significa “filhote
de leão” em hebraico, sendo que o feminino deste seria Kefira, segundo o Think Baby Names.
Pode ter acontecido da família ter apenas ouvido o nome, e não visualizado ele
escrito, e interpretado a escrita como Kéfera. Uma submissão no Behind The Name, diz que o
nome coincide com uma palavra hebraica que significa "heresia, negação de
Deus" (você pode confirmar essa informação digitando כפירה – Kefira – no Google Tradutor).
Kefira é também a tradução literal para a palavra “iogurte” em russo.
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