quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Nomes Unissex

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Texto originalmente publicado 
no Blog dos Nomes, de autoria de
Roberta de Aguiar.
Para ler o texto original, 


Nomes unissex são um universo à parte. Geralmente quando vejo alguém pedindo auxílio para encontrar um bom nome as frases que acompanham a solicitação costumam ser: ‘quero um nome delicado para minha princesa’, ‘um nome elegante para minha mocinha’, ‘um forte para meu rapaz’, etc. Tem aqueles que separam os nomes entre ‘os que acabam em A para meninas e os que acabam em O para meninos’. Ou ainda dizem ‘quero um nome que fique claro que é masculino’.

Mas existem, perdidos no mundo dos nomes, aqueles que, além de não identificarem imediatamente o gênero, são ainda para ambos. E tem muita gente que gosta deles. Ou porque gostam de um determinado nome unissex, ou porque gostam de toda essa classe. Quem não conhece alguém com nome unissex? Não falo, entretanto, daqueles que receberam um nome claramente do sexo oposto (quando, p.e., os pais queriam muito um menino, veio a menina e mantiveram o nome), ou daqueles compostos costumeiros em Portugal, onde o primeiro nome é do gênero de nascimento da criança e o segundo do oposto, como Maria João e João Maria. Falo mesmo daqueles que em português são para ambos os sexos, ou são masculinos em uma determinada língua e femininos em outra.

Eu conheço algumas (ou várias) pessoas com nome unissex. Um exemplo, Leonor, nome tradicional e hoje popular em Portugal, comum na aristocracia e realeza, autorizado somente para o feminino (e quem em PT não dirá que não apenas é feminino, quanto mais de princesa?). No Brasil é usado largamente no masculino. Por mera curiosidade fiz uma enquete com amigos, todos disseram se tratar de um nome masculino. Fui então pesquisar na empresa onde trabalho. Encontrei 4 Leonores, 2 mulheres e 2 homens. Aqui no além-mar é unissex. 

Também já vi quem tenha escolhido um nome unissex, e fosse o que fosse o bebê, receberia o tal. E recebeu. Tenho uma parente e um professor com o mesmo nome. E tenho eu mesma uma filha com nome unissex, ainda que em países lusófonos seja claramente um nome feminino, em algumas línguas é masculino e em outras  unissex. E um colega de trabalho meu conta com o mesmo nome da minha menina, apesar de achar que ele não gosta do próprio nome.

E de ler por aí, também vi quem procure um nome unissex por não querer tipificar um gênero ao filho. Deseja encontrar um nome que se a de que a ambos os gêneros, para que o filho, ao crescer, tenha a oportunidade de escolher ao qual se identifica, sem se sentir preso aos estigmas da sociedade, que determina as ações humanas desde o berço, a partir do sexo biológico. Uma postura, para mim, válida. Ainda que não seja o meu motivo para gostar de nomes unissex.

Talvez seja preciso uma certa dose de ousadia escolher dar a um filho/a um nome unissex, já que fica claro que o interlocutor não irá perceber de pronto qual o gênero, mas também logo descoberto, não causará maiores dificuldades. Talvez hajam piadas sobre feminino/masculino, mas qual nome não pode gerar gracejos? Penso eu ser bem uma classe de nomes válidos e utilizáveis, talvez apenas devendo-se tomar cuidado para não colocar um nome que em outra língua é do gênero de seu filho e na nossa do oposto, como dar a uma menina brasileira o nome de Yuri, tão ligado aqui a meninos. E mesmo assim, isso não me horroriza. Talvez seja só aquela velha conversa, de que devemos não apenas nos ater ao nosso gosto, mas pensar na vida e nas vivências pelas quais nossas crianças passarão.


Roberta de Aguiar (O Blog dos Nomes)


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