O músico andino Léo Rojas. |
É considerado algo
bem ousado, elegante e sofisticado, moderno e de bom gosto, usar nomes de
deuses para batizar nossos filhos. Deuses gregos, nórdicos, romanos, e isso se
tornou bem habitual ao longo dos tempos. Mas, por que não usamos divindades indígenas
nesse hábito de nomeação? Apesar de Tupã
ser uma das divindades mais
conhecidas em relação a mitologia indígena, poucos são os pais que se arriscam
a usar seu nome.
Tupã
,
que na língua tupi significa trovão, é uma entidade da mitologia tupi-guarani.
Os indígenas, na verdade, rezam a Iamandu,
Nhamandú ou Nhanderuvuçu, que era
sua divindade suprema (alma velha, em tupi) e Tupã não é exatamente um
deus, mas uma manifestação do deus na forma de trovão. A confusão foi feita
pelos jesuítas, que imaginaram que Tupã correspondia melhor ao deus cristão, e o
utilizaram para fins de catequese. Na verdade, Nhanderuete, “o libertador da palavra original”,
segundo a tradição mbyá, teria servido melhor ao que os catequizadores pensavam.
Tupã
,
como divindade suprema dos indígenas foi, então, uma adaptação para catequese.
O conceito de Tupã era o trovão (de tu-pá, ou tu-pana, golpe, baque, estrondo),
sendo algo cujos efeitos e causas os índios temiam e desconheciam. Assim, como
os índios temiam o trovão, era mais fácil usar do medo para catequizá-los, já que
eles pensavam que era algo totalmente divino ou místico. Então, na verdade,
antes dos jesuítas aparecerem e catequisarem os índios, Tupã era um ato divino, o sopro da vida.
Para entender a coisa
toda, é necessário ler um pouco sobre mitologia indígena:
De acordo com a
lenda, após Nhanderuvuçú criar as
almas e as águas (Iara), criou Tupã
, responsável por controlar o tempo, o clima e os ventos. Por isso que os
indígenas temiam os sons dos trovões e relâmpagos, pois pensavam ser Tupã a manifestar-se negativamente sobre algo ou um
mau presságio. Nesse sentido, podemos conferir a Tupã o status de uma
divindade secundária, como teria Apolo ou Ártemis na mitologia grega, em
comparação à Hera e Zeus.
A figura primária na
maioria das lendas guaranis da criação é Iamandu (ou Nhanderuvuçu ou Tupã ),
o Deus trovão e realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Jaci (ou Araci), Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um
monte na região do Areguá, no Paraguai, e, deste local, criou tudo sobre a face
da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram
colocadas no céu nesse momento.
Tupã
,
então, criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos guaranis, eles
foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações
nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do
homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de
soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e
partiu. Qualquer semelhança com a mitologia hebraica e o mito da criação
cristão é (ou não) mera coincidência?
Os humanos originais
criados por Tupã eram Rupave
e Sypave, nomes que significam
"Pai dos povos" e "Mãe dos povos", respectivamente (de novo, olha a semelhança com Adão e Eva).
O par teve três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi
Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo
guarani (Abel, é você?). O segundo
filho foi Marangatu, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete monstros
legendários do mito guarani. Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso,
ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas
e tirar vantagem delas (Opa, acho que
encontrei Caim!). Ele, eventualmente, cometeu suicídio, afogando-se, mas
foi ressuscitado como um caranguejo, e, desde então, todos os caranguejos foram
amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.
Entre as filhas de Rupave e Sypave, estava Porâsý,
notável por sacrificar sua própria vida para livrar o mundo de um dos sete
monstros lendários, diminuindo seu poder (e portanto o poder do mal como um
todo). Ah, claro, no mundo cristão, não são admitidas divindades femininas,
portanto, aqui não encontraremos semelhanças. Crê-se que vários dos primeiros
humanos ascenderam em suas mortes e se tornaram entidades menores.
Kerana,
a bela filha de Marangatu, foi
capturada pela personificação ou espírito do mau chamado Tau (em tupi antigo, Taúba ou Taubymana). Juntos, eles tiveram sete filhos, que foram
amaldiçoados pela grande deusa Arasy
(Araci ou Jaci), e todos, exceto
um, nasceram como monstros horríveis.
Os sete são
considerados figuras primárias na mitologia guarani e, enquanto vários dos
deuses menores ou até os humanos originais são esquecidos na tradição verbal de
algumas áreas, estes sete são geralmente mantidos nas lendas. Alguns são
considerados reais até mesmo em tempos modernos, em áreas rurais ou regiões
indígenas.
Assim, Tupã acabou sendo mais usado como topônimo
do que como nome próprio. Temos um município de São Paulo chamado Tupã, e além
desse temos outros vários compostos com o nome: 1) Tupaciguara ("terra da
mãe de Deus", através da junção dos termos tupã ("Deus"), sy
("mãe") e kûara ("terra") (MG), 2) Tupanatinga (PE), 3) Tupanci
do Sul ("Mãe de Deus")
(RS),
4) Tupanciretã ("terra da mãe de Deus", através da junção dos termos tupã
("Deus"), sy ("mãe") e retama ("terra") (RS),
5) Tupandi (RS), 6) Tuparendi (significaria “Luz de Deus”,
em tupi) (RS), 7) Tuparetama (pátria de Deus, o céu. De 'tupã': Deus; e
'retama': lugar natal, pátria) (PE), 8) Tupãssi ("mãe de
Tupã") (PR);
Apesar de ser pouco
utilizado como nome próprio, a lista de São Paulo, divulgada pela Arpen/SP, do
ano de 2015, sinaliza o registro de dois meninos chamados Tupã. Então, duas famílias paulistas tem um pequeno “deus do trovão” em suas casas. Ele é
incomum, mas sua terminação é idêntica à de Cauã/Kauã.
Além disso, parece ser um bom coringa com um significado legal para ser usado
em compostos.
Há apenas 72 pessoas chamadas Tupã no Brasil, e a maioria deles, precisamente 35 deles, no estado
do Amazonas – onde, inclusive, é o local onde os indígenas ainda conseguem
manter os seus costumes protegidos pela floresta amazônica – mas não há dados
dizendo em que década foram registrados. Não fazemos ideia portanto, se os Tupã
existentes no Brasil são senhores idosos ou jovens.
Aqui vão algumas
sugestões:
Raoni
Tupã ou Tupã Raoni (dois nomes indígenas)
Ravi
Tupã ou Tupã Ravi (o deus sol indiano mais o deus trovão dos indígenas, parece uma boa mistura).
Tupã Ravel
Levi Tupã
.
Nunca tinha pensado nesse nome, mas depois de ler o texto, algo está despertando aqui sobre Tupã! É realmente muito bom!
ResponderExcluirMuito legal, os nossos deuses indígenas também devem ter reconhecimento! Acho Tupã um nome muito legal, adoraria ver mais Tupãs nascendo>
ResponderExcluirSe formos pensar, o deus dos cristãos chegou aqui junto com as naus portuguesas, desembarcou e desbancou uma mitologia reinante tão rica e detalhada! E por causa dessa ideia de “paganismo” ninguém se preocupou de registrar tudo com a riqueza de detalhes que merecíamos! Triste história.
ResponderExcluirEu acho que Tupã já vem sendo usado razoavelmente como segundo nome. As pessoas ainda não estão com coragem de usar como primeiro nome, mas é só uma questão de tempo
ResponderExcluirSim, é falta de hábito. Mas se usam nomes de deuses de outras culturas não vejo por que não possam se acostumar com um deus da mitologia tupi
ExcluirAcho muito válido usar como nome, assim como Tupi também cairia muito bem como nome próprio. Me soa muito bem.
ResponderExcluirVerdade Michael. Você acha melhor Tupi como feminino ou masculino?
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