terça-feira, 5 de julho de 2016

Keirrison e Maicosuel no mesmo time: o dos nomes "criativos"

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Matéria retirada do site Opinião
e Notícia, publicada em 2009, replicada 
aqui pela relevância do tema.

"O Blog Por Trás do Nome adverte: Não use nomes esquisitos e bizarros
em seu filho"


Eles estão por toda parte. Na praia, por exemplo, surge aquele grito: “Katiene e Uóston, querem um picolé?”. No cinema: “Anderson Clayton, senta, menino, que a sessão vai começar”. Na imprensa: “Prefeita de Natal, Micarla de Souza está preocupada com o orçamento para 2009”. 

Sem fazer muito esforço, dá pra escalar uma seleção de jogadores de futebol com nomes pra lá de originais: Danrlei; Edcarlos, Odvan (referência à música “O Divã” de Roberto Carlos), Rever e Sheslon; Cleiton Xavier, Gladstone e José Wilker(em homenagem ao ator); Keirrisson, Richarlyson e Maicosuel. Essa linha de frente, então, não tem defesa que resista.
O Brasil é pródigo em nomes assim: estranhos, bizarros, esquisitos, inusitados — o adjetivo que você preferir. Conviver com uma marca tão forte para a vida toda pode ser difícil. 

Nomes compostos, homenagens, estrangeirismos e outros — até muito bem humorados — podem transformar a vida de seu portador num inferno. Mas os que acreditam que não existe legislação a respeito estão enganados. O parágrafo único do artigo 55 da lei 6.015 de 1973, do Código Civil, diz que “os oficiais não registrarão nomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso à decisão do juiz competente”.


Juíza de Paz das 2ª e 3ª circunscrições de Registro Civil de Pessoas Naturais, Lilah Wildhagen lembra que os estrangeirismos — como Washington, Michael, Desirée — quando escritos corretamente, não expõem ao ridículo. Alguns países, no entanto, não os aceitam. “Este assunto é polêmico. Lembro que meu avô tinha um amigo, o Um Dois Três de Oliveira Quatro. Era jornalista”. 

Pasme, ele existiu! Lilah destaca ainda que o artigo 56 da mesma lei permite que a pessoa mude de pré-nome: “Mas isso só pode acontecer entre os dezoito e os dezenove anos. Basta o interessado encaminhar um pedido para o juiz de Direito. Nem precisa constituir advogado para tal”, ressalta. Mensalmente, as circunscrições da juíza recebem cerca de cem pedidos de alteração de nome: “Mas são pedidos de retificação, ou seja, de trocas de “Y” por “I”, de “S” por “Z”. São recorrentes também as inclusões de apelidos aos nomes — como em Luis Inácio “Lula” da Silva. 

Os pedidos de alteração de nomes estranhos mesmo são muito raros”, afirma. Em tempo: já passaram por estas, e outros 12 circunscrições, nomes como: Rolando Pedrinha, Gilete de Oliveira, Piedade dos Remédios, Hiena da Rosa e Prelcheria Augusta.

O nome que pesa

Fundada em 1951, a American Name Society é presidida pelo psicólogo Cleveland Kent Evans. No site da instituição, destaca-se a crença de que os nomes difíceis podem tornar as pessoas menos frágeis e mais aptas a enfrentar dificuldades da vida. 

A sociedade promove encontros mensais nos quais são estudadas as características linguísticas e culturais dos nomes. O bom humor e a criatividade dos norte-americanos renderam algumas pérolas como: Post Office, Mary Christmas e Emma Royd. Em seu livro “Freakonomics”, Steven Levitt e Steven Dubner apontam que filhos de pais pobres e com pouca instrução têm mais chance de receber nomes estranhos. Os autores acreditam que tais nomes estão associados a uma maior ocorrência de problemas escolares.

Para a psicanalista Selma Correia, o nome pode atrapalhar, e muito. Ela teve uma paciente — cujo nome preserva — que sofreu muitos danos psicológicos. “O nome tem toda uma carga de identificação. Essa moça passou maus momentos quando o pai a registrou em segredo — e contra a vontade da mãe — com um nome ridículo. Foi um trauma para todos”, conta. A psicanalista defende que o nome nasce antes mesmo da pessoa, sendo cultivado durante meses. “O sujeito antecede o biológico. 

Existe uma carga de desejo e fantasia em cada nome. Os nomes têm homenagens e significados importantes. E, para começar, não somos nós, os portadores, que os escolhemos”, diz. Selma revela que a paciente vivia aprisionada a um nome que provocava riso e constrangimento. “O sofrimento paralisa a vida. Minha paciente usava um nome extra-oficial para poder tocar a vida. Certa vez, recebeu uma homenagem num grande evento no hospital onde trabalhava. Foi chamada pelo nome verdadeiro. Sequer levantou para receber o prêmio. Ela foi vítima de uma “maluquice familiar”, diagnostica.

No Maranhão, onde Sarney não passa de uma apropriação do apelido do pai do senador, “Sir Ney”, havia um Prodamor de Marichá e Marimé — Produto do Amor de Mariano Chagas e Maria Amélia. Prodamor tinha uma irmã, chamada Oiami — 1º de maio ao contrário. O mesmo estado nos deu Sétimo Waquim — que chegou a deputado federal. Ele ganhou este nome porque nasceu às sete horas, no dia 27, do ano 49 — que é sete vezes sete. 

Mas há controvérsias sobre o real motivo. A terra de Micarla, o Rio Grande do Norte, já teve um governador Dix-Sept Rosado (Dezessete, em francês). Ele era o décimo sétimo de numerosos irmãos que receberam seus nomes dos números em francês na ordem em que vieram ao mundo. O caçula deles se chama Vingt et un (o vigésimo primeiro). Tem ainda os nomes ao contrário: Onaireves e Oinegue.

Com a licença do leitor, uso a primeira pessoa para encerrar este texto e confidenciar que meu pai — Stenio Dylmar — e meus tios Stelia Dilma, Steli Dilney e Stelmo Delmar sempre encararam com bom humor a dose dupla que receberam. Devem ter feito análise na barriga de minha avó.

Caro leitor,

você acha que no Brasil deveria haver restrições quanto à colocação de nomes, como acontece em Portugal e França, por exemplo?
Você conhece alguém que passa por situações constrangedoras devido ao fato de ter um nome, digamos, “esquisito”?



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