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Uma frase da personagem Gislaine
do Zorra Total diz que a única coisa estrangeira na casa do pobre é o nome dos
filhos. Brincadeiras à parte, sabemos que essa é uma visão muito
preconceituosa, caricata e classista. A ausência de bens materiais e financeiros
nada tem a ver com a preferência por nomes americanizados, e sim, uma
determinada consciência cultural coletiva de que tudo que é estrangeiro é
melhor.
A verdade é que o Brasil é uma
grande ‘sopa cultural’, onde são encontrados descendentes de todas as etnias
possíveis, e fica muito difícil fazer essa separação entre estrangeiro. Os
únicos nomes que podem ser considerados brasileiros são os nativos, ou seja, os
indígenas. Fora isso, todo nome é estrangeiro, pois afinal, não há nenhum nome
de origem na língua portuguesa especificamente. Eles têm origem no grego, no
latim, no hebraico e por isso, nesse sentido, todos eles são de determinada
forma estrangeiros.
O que existem são variantes que
adaptam-se mais facilmente a língua portuguesa. Então são variantes
portuguesas, e não necessariamente nomes portugueses.
A questão da escolha de um nome
estrangeiro para o filho(a) – principalmente os norte-americanos e ingleses –
estão ligados à um complexo de inferioridade do brasileiro em relação à sua própria
nacionalidade e cultura: uma ideia de que tudo que vem dos Estados Unidos é
melhor, mais sofisticado. Na verdade, não é por mal, bem pelo contrário: eles
pensam que seus filhos terão mais sucesso, serão mais bem sucedidos se tiverem
nomes estrangeiros, nomes de personagens de filmes, de atores famosos, cantores
conhecidos, etc.
E o resultado disso é que existem
pessoas com nomes ridículos, escritos de jeitos esdrúxulos, totalmente errados,
grafados conforme a pronúncia ou com k, w, y e letras duplas sobrando. Com o
tempo, a gente aprende a tolerar a maioria dos nomes estrangeiros. Acho que o “Love”
pelos nomes americanos teve seu ápice na década de 80 e agora arrefeceu, sendo substituídos
pelos nomes italianos.
O complicado não é
necessariamente usar um nome estrangeiro. O complicado é querer usar um nome
estrangeiro e não saber escrever, aparecendo aí os Maicons, Britineis,
Uitineis, Uilians, e coisas afins. Ou pior, pegar um nome simples como Manuela
e transformar em Mannuelly só por que sim. O cuidado que devemos ter é para que
a criança não venha a carregar o estigma de ter nascido em um local com pouca
cultura e/ou filho(a) de pessoas ignorantes.
Bom gosto não depende da quantidade
de dinheiro que você tem, ou dos bens materiais que você acumula, nem da posição
social que você sustenta. Afinal de contas, a neta do Senador Paulo Paim (do
PT-RS) chama-se Eyshila (sinceramente, não sei se é assim que escreve) e ele é
um senador da república bem conceituado, culto e suponho, nada pobre
financeiramente. Embora esse caso seja mais o amor pela cantora gospel (creio
eu) do que pelo estrangeirismo, é um bom exemplo de que bom gosto não depende
de riqueza ou pobreza, depende é de instrução cultural e bom senso mesmo.
Respondendo a pergunta-título do nosso post, eu sinceramente não acho que brasileiro prefere nomes estrangeiros. Basta dar uma breve olhada nas nossas listas (tanto a do Baby Center Brasil quanto a da Arpen/SP) para perceber que os primeiros colocados são nomes simples tanto na escrita quanto na pronúncia (Sofia, Julia, Alice, Isabela, Manuela, Davi, Miguel, Pedro, etc.). As pessoas que gostam de enfeitar nome ou de usar nomes estrangeiros são uma minoria culturalmente demarcada. Dizer que "brasileiro é fã de nomes estrangeiros" é generalizar e ser preconceituoso.
Mas como é bom sempre salientar: um nome chique, elegante, sofisticado, não é aquele que vem com um número maior de letras duplas, com um número maior de K, W e Y, ou aquele catado nos países mais longínquos da Terra. Quanto mais simples, mais clean, mais elegante ele é. Ou seja, no caso dos nomes, menos é mais. Sempre.
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