quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Melisandre

Melisandre, interpretada pela atriz
Carice Van Houten  

Nos Estados Unidos do ano passado, nasceram 82 meninas chamadas Daenerys. Entretanto, nenhuma Melisandre. Acho até injusto, afinal, a personagem da feiticeira vermelha é super  marcante. Claro que, na série, ela é mais cruel do que é dos nos livros, sem querer dar spoiler de um ou de outro, mas a sua vilania e seus sacrifícios a Rohllor provavelmente não ajudaram na popularidade do nome.


Conforme a descrição da Wikipédia, “Melisandre é uma personagem fictícia da série de livros A Song of Ice and Fire e da série de televisão Game of Thrones. É uma sacerdotisa de R'hllor, o Senhor da Luz, sendo também uma feiticeira capaz de utilizar sombras para cumprir a sua vontade”. 


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Melisandre em pequena era chamada Melony, e foi vendida como escrava ao templo vermelho. Ela lembra-se constantemente de "Lote sete", que era provavelmente o lote a que ela pertencia no leilão de escravos, segundo o que consta em “Dança dos Dragões”.

Entretanto, Melisandre cresceu bastante como personagem na 6ª temporada de Game of Thrones, exibida este ano. Assim, o nome acaba chamando atenção. George R.R Martin já revelou, em entrevistas, que inventa os nomes dos seus personagens a partir de dicionários de nomes para bebês.


Melisandre não é um nome difícil de ser desvendado: tanto Mélisande como Melisende são formas medievais francesas de Millicent. Mélisande inclusive foi usado por Maurice Maeterlinck para sua peça “Pelléas et Mélisande” (1893), que depois foi adaptado para uma ópera de Claude Debussy. Todas essas versões vem de Amalasuintha, composto dos elementos “amal” (trabalho) e “swinth” (forte), de origem germânica. Amalasuintha era uma rainha dos ostrogodos no século 6. Os normandos introduziram o nome na Inglaterra como Melisent ou Melisende, o que evoluiu para Mélisande em francês. Melisende foi inclusive, uma rainha de Jerusalém no século XII, filha de Balduino II. 


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Obviamente, o som de Mélisande e de Melisandre é praticamente o mesmo. No entanto, podemos juntar elementos gregos e formar esse nome: o grego μελαινα (melaina), que significa “preto, negro”, é usado em nomes como Melanie ou Melânia, enquanto “andre” lembra imediatamente nomes como Cassandra (que curiosamente sempre foi associado à feitiçaria), e vem do grego “andros”, que significa “homem” (está presente em André, Lisandra, Alexandre, Evandro, etc.). Melisandre formaria algo como “homem negro”, possivelmente não referindo à cor de pele, mas a aura sombria da feiticeira, empenhada a conquistar seus fins independente dos meios que vai utilizar.

Assim, não faltaram inspirações para G.R.R Martin compor o nome Melisandre. Ocorre que, justamente por ser tão semelhante à Cassandra, Lisandra, Alexandra, em termos de terminação, ele é um dos nomes que mais me soa familiar dentro do mundo de gelo e fogo e da série Game of Thrones. Até mesmo arrisco pensar que teria sido infinitamente melhor se Martin tivesse usado Melisandra, nessa terminação. No Brasil, estamos imensamente acostumados com o nome Elisandra, um “M” na frente seria facilmente aceito sem maiores reclamações.

Curiosamente, parece que não fui a primeira a pensar isso: segundo dados do IBGE, temos no território brasileiro 33 mulheres chamadas Melisandra, e mais 47 chamadas Melissandra. Como os nascimentos foram bem antes do livro ou da série, o nome delas fica por conta da junção de “Melissa” com “Sandra” ou coisa que o valha. Mas as Melisandra’s e Melissandra’s existem.


Portanto, Melisandre é um nome literário do universo fictício de George R.R Martin que é perfeitamente utilizável em pessoas reais. 




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