quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Os nomes populares e seus problemas

 
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Nomes populares demais causam uma série de problemas na infância e na vida adulta. Acho que cada criança merece um nome único e especial: claro que você não precisa escolher um nome estranhíssimo que ninguém tem, ou tentar inventar algo novo para se diferenciar. Não é isso. Existem milhares de bons nomes completamente esquecidos, enquanto aqueles benditos nomes do top 10 estão lá, bombando.

Falo por experiência própria. Meu nome, Juliana, é um dos mais populares da minha geração. Para falar a verdade, ele é o 6º mais popular em todo o Brasil, durante os mais de 80 anos da pesquisa do Censo 2010 (IBGE). No Rio Grande do Sul, meu estado, ele é o 8º. 

Na década em que eu nasci, os anos 80, Juliana foi o terceiro mais usado, perdendo apenas para Maria e Ana – os tradicionais. No total, éramos 564.706 Juliana’s vivas (fora as que por algum motivo faleceram) até 2010 em todo o Brasil. É Juliana pra juntar com rodo.

Mas eu não precisaria do IBGE para me dizer isso: na infância eu era a Juliana filha do Fulano e da Fulana, neta do Ciclano, prima do Beltrano, as pessoas me localizavam por parentescos; ou então, por lugares, dizendo a Juliana que mora no lugar X, ou a Juliana que estuda em tal escola, em tal série, com a tal professora; Ou por característica física, a Juliana morena, a Juliana do cabelo comprido, a Juliana gordinha.

Na escola, cada turma que frequentei tinha pelo menos mais duas Juliana’s além de mim. Teve épocas que foram 5 Juliana’s na mesma turma! Era um tal de ser chamada por sobrenome o tempo todo. Todas eram chamadas pelo sobrenome, e apenas uma tinha o privilégio de ser “a Juliana”. Nunca era eu.

Eu tive uma homônima dentro da minha própria família. Felizmente, a prima em questão tinha um segundo nome, e morava distante, o que não causou tantos problemas. Porém, havia outra prima com exatamente o mesmo nome, mais afastada, que infelizmente morreu. Muitas vezes me deparei com meu nome e sobrenome gravadinhos numa sepultura. Não morri por causa disso, mas foi bizarro de ver.

Quando me casei e adotei o sobrenome do meu marido, que é super incomum, por sinal, pensei que esses problemas terminariam. Qual?! Há uma com exatamente o mesmo nome que eu, que só escapo por não ter retirado o meu sobrenome paterno. Ainda assim, sendo a moça psicóloga, a quantidade de gente que já ligou atrás do endereço do consultório ou para marcar uma consulta, nem é bom começar enumerar.

Minha mãe tinha 3 opções: Juliana, Jezebel e Jordana. Ela não tinha como saber, mas escolheu exatamente a mais popular. Isso em tempos sem internet ou acesso a outros meios de comunicação, sem dados sobre registros. Ela não conhecia nenhuma Juliana na época então achou mega original. Minhas primas e primos também receberam nomes mega populares. Hoje qualquer um tem acesso a essas informações. 

Ela não tinha como saber também que eu preferiria mil vezes me chamar Jezebel ou Jordana. Não me entendam mal: eu gosto do meu nome. Não trocaria mais, afinal, ele faz parte do que sou. Mas que teria sido bom ser “Jezebel, a única”, seria.

A minha mãe, assim como os milhares que se prendem apenas aos nomes muito usados, foi do time que não troca o certo pelo duvidoso. Ora, disseram que Jordana iria dar no apelido “Jorda” e que na escola diriam “Gorda” se a criança fosse gordinha (o que de fato, foi mesmo). Disseram ainda que Jezebel era uma personagem muito má da Bíblia. Ambas as escolhas teriam sido criticadas amplamente pela família e pelos amigos.

Juliana ninguém criticaria. Um nome popular, conhecido, da moda da época. Ninguém diria que era nome de velho, horrível, esquisito. Juliana era a escolha mais segura. E cá estou eu, com mais meio milhão de Juliana’s e agradecendo todos os dias por ter sobrenomes incomuns, caso contrário, já poderia ter ido para cadeia no lugar de alguma Juliana criminosa, ou acabado indo para o SERASA no lugar de uma Juliana caloteira.

É por isso que defendo: Ao iniciar o processo de escolha do nome do seu filho(a), verifique a popularidade do mesmo. Se ele estiver no topo das listas de registros (BabyCenter, Arpen/SP, IBGE), reconsidere. Afinal, toda criança tem o direito de, pelo menos em termos de nome, ser um pouquinho especial. Ninguém merece virar a esquina e achar mais 10 xarás.

De um modo elucidativo digo que, hoje, caso venha a novamente escolher um nome para um filho(a), se o nome estiver na lista dos mais populares, ele automaticamente está descartado. Se tiver a mais remota possibilidade dele vir a se tornar modinha, ele também estará descartado. 

Certamente, a pessoa que primeiro escolheu Sofia no início dos anos 2000, jamais imaginava que o nome estouraria e seria popular no Brasil e na maioria dos países que divulga rankings. Essa pessoa fez o seu melhor. Os que registraram esse ano, sabendo que Sofia esteve no topo dos registros nos últimos oito anos, são responsáveis por dar à filha o nome mais usado em níveis mundiais.

Arrisco até a dizer que se tivéssemos um ranking alienígena, é bem possível que Sophia estivesse no topo. Para exemplificar com Sophia, além do Brasil, ele está nas primeiras posições dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Austrália, Áustria, Bélgica, Chile, França, Irlanda, Itália, Holanda, Nova Zelândia, Irlanda do Norte, Noruega, Escócia e Suíça.

A variante Sofia está nas primeiras posições do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Austrália, Bélgica, Catalunha, Chile, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Galícia, Irlanda, Itália, México, Holanda, Nova Zelândia, Irlanda do Norte, Noruega, Portugal, Romênia, Escócia, Eslovênia, Espanha, Suécia e Suíça. Lembrando que isso é só uma amostrinha: a maioria dos países não divulga ranking de nomes mais usados. Da América Latina, por exemplo, só temos do Brasil e Chile.

Assim, uma criaturinha chamada Sofia não só vai ter um nome popular no Brasil como em pelo menos mais uns trinta países. Olhando para esse caso, até se chamar Juliana não fica tão ruim.

Na lista da Arpen/SP de 2015 Sophia teve 10.424 registros. Preste bem atenção: Isso só em 1 ano e só no estado de São Paulo. Multiplique isso por 10 anos e depois faça a conta pelos 27 estados do Brasil. Jogando a conta muito por baixo, isso quer dizer que nos últimos 10 anos podem ter nascido cerca de 2 milhões de Sophia! E vejam: Eu não contei a grafia Sofia, nem a grafia Sophie, que tiveram, respectivamente, 3729 e 505 registros.

Os outros nomes que estão no top 10 – Miguel, Arthur, Davi, Pedro, Bernardo, Gabriel, Lucas, Matheus, Heitor, Rafael, para meninos e Alice, Julia, Laura, Isabella, Manuela, Luiza, Helena, Valentina e Giovanna – não sofrem desse fenômeno mundial, é claro. São mais usados em países localizados, exceto alguns que poderiam ser classificados como internacionais. Mas ainda assim, sofrem da mesma pandemia que Sofia no que diz respeito aos registros nacionais.

Davi, por exemplo, é endêmico: 21507 meninos nascidos com esse nome só no Estado de São Paulo (não há dados dos outros 26 estados) e só no ano de 2015 (há uma lista da Arpen/SP de 2014 mas não de anos anteriores). Davi também está há vários anos no topo dos registros, e por isso, registrar um Davi com certeza é joga-lo num caldeirão de milhões de xarás só no Brasil.

Com todo o respeito que tenho pelos leitores do Blog:

Ninguém merece ter um nome agua de salsicha desse jeito. E os pais continuam escolhendo os mesmos nomes! É como se cada dia as pessoas fossem colocadas diante de um buffet com 1000 pratos diferentes e deliciosos, e escolhesse sempre o feijão com arroz.

Não dá para entender, visto a variedade de nomes maravilhosos que temos por aí, que são totalmente esquecidos. Nem darei exemplos sobre os nomes que gosto, afinal, eu tenho um gosto mais exótico para nomes, mas irei em nomes conhecidos, clássicos e sofisticados no estilo de Sofia. Vamos à Valéria: apenas 30 registros na lista da Arpen/SP de 2015. Clássico, sofisticado, elegante, e original na geração atual! Este é só um exemplo, há muitos outros.

Então, por que não pesquisar?

Papai e mamãe tem mais ou menos 40 semanas para pensar em um nome e arrasar na escolha, mas quando finalmente divulgam o resultado, nos deparamos com um nome previsível e popular. Vamos mudar essa história?

Pesquisem.

Pesquisem.


Pesquisem. 





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4 comentários:

  1. Arrasou! Minha sorte é que o meu nome Isabel, aqui onde eu moro não era tão comum assim na minha escola, mas a minha irmã Vitória, sempre tinha mais de uma na turma dela. Pra meninas eu gosto muito de Daphne, Aurora, Adele, Helena, Ana Sol e Maria lua (quero gêmeas) e meninos Otto, Matteo, mas o meu preferido é Filippo.

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    1. Com certeza, há muitos nomes super legais que estão esquecidos, não precisa inventar ou enpheyttar para ter um nome diferente, é só ter paciência e pesquisar. Adorei os nomes que você citou. Infelizmente, Helena é muitíssimo popular nessa geração e Aurora acaba de entrar para o top 100 do BabyCenter Brasil.

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  2. Adorei!!!! Ri bastante. De fato, há muitas Julianas nascidas nos anos 80, época em q também nasci.
    Acho q vc tem toda a razão na sua crítica quanto à exclusividade e ao papel de identificação do nome.
    Faço apenas uma sugestão: é preciso considerar tb a época para taxar um nome de comum ou não.
    Juliana, por exemplo, é o nome da minha filha! Mas ela nasceu em 2015. Atualmente, esse nome já não é mais tão popular quanto nos anos 80. Ela é a única Juliana q já vi entre as crianças da idade dela. Mas tem a vantagem de ser um nome conhecido por todos e de fácil grafia. Pensei justamente nisso na hora de escolher o nome.
    Parabéns pelo texto!

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    1. Sim, Carolina, uma Juliana nascida agora corre pouco risco de encontrar uma xará na sua turminha da escola. Na minha cidade, entretanto, meus filhos são colegas de Juliana's, acho que aqui o pessoal continua usando a pá. A popularidade de um nome tem muito a ver com a geração, afinal, segundo o IBGE, Francisca é um dos nomes mais usados do Brasil, o terceiro mais usado de 1930 a 2010, se não me engano, mas em crianças ou adolescentes esse nome é raríssimo. No total, são 721.637 pessoas chamadas Francisca, mas pouco mais de 30.000 nasceram depois dos anos 2000. Acho que depois de 2010, que a pesquisa do IBGE não cobre, foram menos ainda.

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